domingo, 28 de dezembro de 2008

Problemas no paraíso Dom Bosco?

Duas latinhas de refri em cima da bancada, duas moléculas de água numa gota, duas partículas de um mesmo átomo - indiscerníveis em todas as suas propriedades categóricas e em todas as suas capacidades. Chamemo-las A e B. Elas não diferem em termos do que elas intencionam (fisicamente). Talvez elas sejam alvo de intencionalidades físicas distintas (dois terremotos as afetam diferentemente). A idéia é que não são SUAS propriedades disposicionais - propridades disposicionais de A e B - que distinguem uma da outra, mas as propriedades disposicionais das demais coisas no mundo. Propriedades espaço-temporais estão na mira de algumas potências, elas afetam algumas potências e não afetam todas (a água dissolve o sal que entra em contato com ela - entrar em contato é propriedade espacial, pelo menos em grande medida). Então o que distingue os indiscerníveis são a mira (das potências) em que eles se encontram e não suas propriedades disposicionais.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Metafísica Dom Bosco e variações

Armstrong diz que a disputa acerca de fardos e substratos é independente da disputa acerca de potências. A metafísica Dom Bosco procura resolver um problema acerca de individuação por fardos ou substratos por meio de um certo tipo de dualismo entre propriedades disposicionais e propriedades categóricas. A idéia inicial é entender que as propriedades são responsáveis pela identidade de objetos - um certo fardismo - e que a identidade qualitativa é dada pelas propriedades categóricas enquanto que a identidade numérica é dada pelas propriedades disposicionais. O problema das bolinhas de metal de Max Black é resolvido assim: duas instâncias de bolinha carregam disposições diferentes, ainda que sejam qualitativamente iguais.

A identidade numérica tem uma medida de deferimento, ela é dada apenas em um limite que abrange todas as potências do mundo. Não há um locus da identidade (numérica), ela é deferimento a outras partes do mundo de uma maneira interminável.

Agora, qual é o caráter desse dualismo disposicional/categórico? Bem, o mais interessante é que disposições, uma vez que elas apresentam uma intencionalidade física, é que elas são direcionadas a protótipos (não necessariamente existentes, dependendo do modo de apresentação). Ou seja, disposições geram protótipos que são, já, propriedades categóricas que determinam objetos. Disposições geram Ceteris Paribus Devices (CPDs) porque carregam direcionalidade a protótipos. Assim, diferentes tipos de objetos são relativos a uma disposição a protótipos; mas a identidade das instâncias depende de outras disposições. Por exemplo, entre as duas latinhas iguais, uma cairia em um tipo de terremoto, outra em outro tipo de terremoto. Propriedades categóricas e objetos são gerados por disposições, mas disposições também são afetadas por propriedades categóricas.

A imagem pode ficar melhor se considerarmos clusters de propriedades, ao invés de um fardismo. Ou seja, a essência de um protótipo é um montante de propriedades (categóricas).
Com o cluster, podemos ter propriedades essenciais não-específicas. Assim, um objeto pode ter um contraparte em outro mundo se tiver um montante de propriedades essenciais - mas um contraparte pode ter outras propriedades disposicionais. A identidade não é indiferente à disposições e a identidade numérica aparece porque diferentes disposições (diferentes CPDs) enxergam diferentes protótipos. Trata-se de uma trama circular, uma trama onde disposições e categorias se retro-alimentam.